Outrora
cidade, hoje aldeia.
Fundada pelos romanos em finais do
séc. I a.C. e elevada a município cerca de um século mais tarde, a
cidade sobrevive às invasões dos povos germânicos. Com os suevos
torna-se sede de bispado, estatuto que mantém com os visigodos. A
este período remete uma das suas lendas mais conhecidas, a
do Rei Wamba.
A invasão muçulmana, no início do
século VIII e as subsequentes guerras da reconquista cristã
trouxeram consigo um sério revés ao desenvolvimento da cidade.
No
reinado de D. Afonso Henriques foi entregue aos Templários, mas foi
D. Sancho II que lhe concedeu foral em 1229. Com a extinção da
Ordem dos Templários o rei D. Dinis, em 1319, concedeu-a
à Ordem de Cristo, tentando assim a sua revitalização.
Apesar do impulso régio de D.
Manuel I, que lhe atribuiu novo foral em 1510, foi sempre perdendo
importância, deixando de ser freguesia nos inícios do século XIX.
Neste mesmo século, a desamortização dos bens eclesiásticos trouxe
consigo a criação de um dos grandes latifúndios da região, ao qual
se deve o impressionante conjunto de equipamentos agrícolas.
O isolamento a que foi votada
acabou por preservar muitos dos principais pontos de interesse,
tendo integrado o grupo restrito das Aldeias Históricas,
juntamente com a aldeia de Monsanto.
A requalificação e valorização do
património construído ao longo de várias épocas foram a base das
intervenções, onde a linguagem arquitetónica contemporânea cria um
contraste claro e assumido com os vestígios remanescentes,
tornando-se mais um ponto de interesse para quem visita a
aldeia.
O percurso pode ser feito a partir
do Largo do Espírito Santo, tradicional recinto de festas com
o nome da capela seiscentista. Ao lado, a Porta Norte e o
troço de muralha associado marcam a presença das estruturas
defensivas e de acesso criadas no Baixo Império, quando a cidade
necessitou de se proteger.
À entrada da aldeia, atravessamos o núcleo de armazéns que
antecede o conjunto definido pelo solar da família
Marrocos e respetivas dependências.
Já no Largo do Pelourinho, antigo
centro da povoação, pode ver-se a Igreja Matriz (antiga
Misericórdia), a Casa da Câmara, atual Centro de Dia da aldeia
e, logo à frente, passado o Forno, chega-se à Torre dos
Templários, erigida sobre o podium do templo principal do fórum
romano.
Mais abaixo o Lagar de Varas,
estrutura de notável qualidade construtiva, e no seu quintal o
Arquivo Epigráfico e os vestígios de uma casa romana. Através da
Porta Sul chega-se ao rio e à passagem das poldras.
Entre os vestígios de antigas
estruturas, ergue-se a Sé Catedral, o ex-líbris mais
enigmático de Idanha-a-Velha. Espaço de interpretação complexa,
dada a sobreposição de intervenções que sofreu ao longo dos
séculos, desde a primitiva edificação paleocristã. Os vestígios de
dois baptistérios, situados a norte e a sul, são testemunho desses
tempos iniciais.
Num terreiro sobranceiro ao rio,
encontra-se a Capela de S. Dâmaso, de feição maneirista
tardia. Em frente os palheiros recuperados para instalação
da Oficina de Arqueologia e, mais adiante, a Ponte Velha
sobre o Ponsul.
Idanha-a-Velha é testemunha de
uma história muito antiga, súmula de prestígio e reveses.